sexta-feira

Os Actos como história

Os Actos dos Apóstolos contam as histórias de personagens, viagens e acontecimentos que marcaram não só as vidas de todas aquelas pessoas mas também a história da humanidade. Tal como um avô conta ao seu neto a história da primeira vez que apanhou um peixe, as histórias dos Actos inspiram, evocam emoções e mudam a nossa visão do mundo. A primeira cena da Ascenção, por exemplo, em que Jesus parte e deixa uma missão aos apóstolos, faz-nos lembrar os filmes em que morre alguém e deixa um último pedido. Na obra estão descritos momentos de coragem e momentos em que as personagens brilham. Fazem-me lembrar dos poucos momentos da minha vida em que tive uma coragem especial e que são histórias que gostaria de contar aos meus netos.
As histórias sobre a coragem não nos dão só exemplos de uma instância corajosa, mas contam-nos um pouco sobre a coragem em si. De tal modo, quando alguém nos conta uma história sobre si aprendemos também quem eles são. Quando a minha mãe me conta uma história acerca dela na escola primária, não só a vejo naquela altura, pequena e com um laço no cabelo, como também a vejo hoje tal como ela é. A história em geral também conta ao mesmo tempo o passado e o presente, pois não pertence ao passado mas a uma unidade de sentido. Como diz José Mattoso, “Quero com isto dizer que só me atrai, no passado, aquilo que me permite compreender e viver o presente” (p. 16). Os Actos do Apóstlos são um exemplo perfeito deste sentido de história. Contam-nos um passado ao qual temos o prazer de pertencer e reflectem as nossas vidas, almas e aspirações.

2 comentários:

Helena Franco disse...

Começamos por uma curiosidade: a cor verde é, na psicanálise, a cor da expansão e do crescimento. E é esta a cor usada pela Julie, autora deste post. Parece-nos, então, que a Julie está a sentir-se expandir e crescer como pessoa e como estudante de Teologia.
Seguidamente, apontamos o facto de a Julie ser pioneira, ao referir-se a um "sentido de história" que coincide com uma "história privada", o que, em nosso entender, tem a ver com o facto de emergir como pessoa da cultura americana, a qual privilegia o indíviduo.
O psicólogo humanista americano Carl Rogers afirma que o mais privado é o mais público. E a Julie, segundo nos quer parecer, está em consonância com esta afirmação.
No post "os Actos como história", Julie dá relevo a valores universais, a saber: transmissão oral e raízes. Estes valores inscrevem-se no tempo e é no tempo que a história se faz. Porque "só me atrai, no passado, aquilo que me permite compreender e viver o presente". Esta frase do historiador moderno José Mattoso é compartilhada pela Julie, no seu sentir e no seu modo de estar. Todo o seu post é um hino ao presente. E à Julie, que escreve com qualidades de reflexão e de narratologia, deixo uma saudação final: SHALOM, JULIE!

Frei Bruno disse...

Achei muito interessante a comparação que fazes do avô que conta a sua história ao seu neto com a história que Lucas nos quer contar quando escreve os Actos.