sábado

ACTOS DOS APÓSTOLOS - POR UMA TEOLOGIA CRIATIVA?

Não. A teologia criativa ultrapassa-nos, mas usar criatividade como estudante de teologia está ao nosso alcance. Esperamos não estar a saturar a comunidade de leitores com este post (imaginativo), mas, antes, a animá-la à participação e à partilha de ideias, de emoções e de sentimentos.



CONTO: RUAH – O BICHINHO DA SEDA

Sou insignificante, desde o meu nascimento. Pesava, então, uma décima parte de um miligrama, e não podia pensar em voar porque sou fêmea e as fêmeas dos Bombycidae, a família a que pertenço não podem voar. Só posso abrir as asas à extensão de 4,5 cm e só posso mover o meu corpo com o comprimento de 3 cm.

Sou mesmo insignificante! Chamo-me Ruah. Aguardo o momento de me transformar em crisálida e de fiar a seda. Tabita, a tecelã, vem ver-me todos os dias como se eu fosse um ser importante.

- Ruah, ensina-me as tuas lições, pede-me Tabita, insistentemente.
- É impossível, Tabita. A seda é as secreções de filamentos que eu produzo.
- Tu soubeste encontrar um lugar seguro para fazeres a tua crisálida, um fechamento em ti-mesma, enquanto eu vivo em total abertura aos outros, diz-me Tabita, com perplexidade.
- Tabita, é-me interdito como larva nascer porque se romper o casulo para sair, irei romper o fio. Eu só posso dar a vida pela seda, pelos outros.

Emocionada, Tabita, a tecelã, tal como Ruah, começa a deteriorar o seu próprio corpo, adoece e morre.

Os seus amigos inquietam-se e chamam o apóstolo Pedro. Ele diz-lhe:

-Tabita, levanta-te!

Da crisálida da morte Tabita regressa a uma vida nova, que a liga profundamente a Deus e aos outros num só coração e numa só alma.

Eu, Ruah, ao dar a vida pelos outros, torno-me verdadeiramente um ser importante.
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BIBLIOGRAFIA: http://www. tecelamanual.com; http://www.achetudoeregiao.com; http//tecnocracia.com.br/
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HELENA FRANCO
2007-11-18

sexta-feira

ACTOS DOS APÓSTOLOS - POR UMA TEOLOGIA POÉTICA

UMA CASA MUITO ENGRAÇADA (1)

“Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede…”

Parafraseando Rubem Alves, afirmamos como é gostoso brincarmos! Os brinquedos da nossa infância eram feitos de coisas materiais: madeira, plástico, metal, pano, papel. Mas também existiam brinquedos feitos com palavras. Uma graça é um brinquedo feito com palavras, que só serve para fazer a gente rir! Aquela música “uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…” é também um brinquedo feito com palavras. “Poetas”, afirma Rubem Alves, “são as pessoas que fazem brinquedos com as palavras.”

Enquanto estudantes de teologia, seria tão gostoso brincarmos com as palavras!... Será que a teologia e a poesia se podem encontrar, quando há desenvolvimentos históricos que indicam um certo distanciamento entre a teologia e a literatura poética? Será que a literatura poética se pode pronunciar sobre os temas cristalizados pela teologia? A nós, parece-nos que sim. Os poetas são arquitectos de casas de papel. Os poetas constroem casas que mudam o destino das pessoas. Todos os poetas são teólogos, que prescindem dos títulos académicos, mas têm a responsabilidade de uma criação inspirada, que exprime afectos e possibilita o re-ligare.

O poeta é o Homem que volta sempre a encontrar outro Homem, numa viagem ao mundo da amizade e da fraternidade universal. Diz o poeta chileno Pablo Neruda:

“Amigo, com a tarde faz que se vá
Este inútil e velho desejo de vencer.
Bebe em meu cântaro se tens sede.
Amigo, com a tarde faz que se vá
Este desejo meu que toda a roseira me pertença.
Amigo, se tens fome come do meu pão.”

Estas palavras poéticas são uma metáfora eucarística, que nos leva a dizer que todo o poeta é Homem da comunhão. No âmago da literatura poética, há o espírito do comungar, do pôr tudo em comum característico dos primeiros cristãos. (Act 2,42-47) A poesia e a teologia são, aqui, convergentes, pelo que podemos afirmar que Lucas, o autor dos Actos dos Apóstolos, não é só, de modo explícito, teólogo, mas também implicitamente poeta.

Há uma afinidade temática entre Vinicius, Neruda e Lucas, em que a casa e a comunhão convergem num referencial único de teologia poética.


(1) A “casa muito engraçada” da letra de Vinicius de Moraes existe. Os versinhos distraíam as filhas de Vinicius numa visita ao amigo uruguaio Carlos Paez Vilaró, quando Casapueblo não passava de um atleriê de lata e madeira, construído por um artista excêntrico (o próprio Vilaró), numa encosta belíssima de Punta Ballena.
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HELENA FRANCO
2007-11-16

quinta-feira

ACTOS DOS APÓSTOLOS - POR UMA TEOLOGIA DA ESPERANÇA

Jean-Dominique Bauby, nascido em 1952, pai de dois filhos era redactor-chefe da revista francesa Elle quando foi vítima de um locked-in syndrome, um doença rara, que o deixou lúcido intelectualmente, mas paralisado por completo, só podendo respirar e comer por meios artificiais e mover o olho esquerdo. Com este olho piscava uma vez para dizer sim e duas para dizer não. Com ele interpelava o seu visitante para as letras do alfabeto ordenadas da mais à menos frequente, na língua francesa, formava palavras, frases, páginas inteiras, e escrevia o livro autobiográfico “Le scaphandre et le papillon” ("O escafandro e a borboleta", Livros do Brasil,1999).

Se podemos dizer que a teologia balthasariana emerge da literatura, então podemos ser leitores atentos do sofrimento transformado em criatividade e do desespero em esperança nas palavras de quem já só tinha a palavra. Diz ele:

“O escafandro torna-se menos opressivo e o espírito pode vagabundear, como uma borboleta. Há tanta coisa a fazer. É possível elevar-me no espaço ou no tempo, partir a voar para a Terra do Fogo ou para a corte do rei Midas. É possível ir visitar a mulher amada, deslizar junto dela e acariciar o seu rosto, ainda adormecido. É possível construir castelos no ar, conquistar o Tosão de Ouro, descobrir a Atlântida, realizar os sonhos de criança e os sonhos de adulto.”

“Le scaphandre et le papillon” é um livro autobiográfico que viria a inspirar a realização de um filme muito bom de Julian Schnabel, no qual a palavra é uma personagem central. E a palavra está estreitamente ligada à relação. No início, Jean-Dominique Bauby (interpretado por Mathieu Amalric) é chamado pela ortofonista (interpretada por Emmanuelle Seigner) de Mr. Bauby, mais tarde de Jean-Do.

“Le scaphandre e le papillon” é a metáfora inacreditável de como podemos sofrer “as dores de parto” em experiências-limite, sem estarmos só, mas acompanhados pela parteira, que é aquela pessoa que tira de nós uma nova vida. Ou seja, é uma metáfora de relação.

Jean-Do é um Êutico (Act 20,7-12) dos nossos tempos. Para Jean-Do a parteira é a ortofonista; para Êutico a parteira é Paulo. Nos dois casos, há uma nova vida, que rompe com as barreiras do nosso corpo, dando a liberdade do ser e do devir. A palavra e a relação originam a esperança.

Em jeito de conclusão: “Le scaphandre et le papillon” é excepcional, porque nos faz construir, de modo criativo, uma triangularidade entre a teologia da palavra, a teologia da relação e a teologia da esperança
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HELENA FRANCO
2007-11-15

A casa lugar de descoberta e de partilha

Eu envio a todos, essas palavras como descoberta e partilha que tive com uma pessoa da nossa paróquia; esta pessoa está doente e passei pela casa dela só para dizer olá e também saber como é que se sentia uma vez que acabava de sair de uma operação no hospital e estava recuperando. o pouco tempo que estivi com ela sublinhou que: "a casa é o lugar de descoberta e de partilha dos nossos problemas, palavra de Deus e também da experiência que fazemos de amizade entre nós. Ela dizia me que as pessoas precisam de um sinal de presença como "sinal da presença do mistério de Deus".
Por outro lado, sublinhou que nós enquanto igreja devemos estar mais atentos a linguagem das pessoas; isto é, o modo como falam e sentem as dificuldades do dia a dia e a forma como vão superando isso co a força da palavra de Deus. Tudo isso, fez -me lembrar a importância da casa e da mesa sublinhada pelo professor durante a aula; é certo que a mesa, a casa é o lugar onde se constroi a comunidade e a identidade comunitária.
Eu creio que com esta compreensão, aprendizagem que tivemos hoje, somosconvidados a fazer da nossa casa enquanto comunidade religiosa, seminário, ou familiar um lugar de descoberta e partilha. E a partilha tem a ver com todas as dimensões da nossa vida, por exemplo: a dimensão humana, espiritual afectiva... todos temos algo a descobrir quando estamos diante do outro e também algo a dar.
A nossa vida experiencia cristã deve ser uma troca do dar e do descobrir, partilahr; porque no mundo não há nenhum rico que não precise nada para receber e também não nehum pobre que não tenha nada para dar.
Zeferino