quarta-feira

Os Actos e a contemplação da história

Se a nossa definição de história se resume a um relatar factual dos acontecimentos do passado, então os Actos dos Apóstolos não são História. Contudo, se alargamos os nossos horizontes conceptuais para um algo que difere, para um algo mais, então, numa análise sincera, encontraremos, nesta obra, traços de verdadeira inspiração histórica, uma história mais profunda do que a mera sucessão cronológica de acontecimentos seleccionados pela tempo, sociedade, culturas, tradições e pessoas, pois na verdade, por muito que seja o estudo, nunca alguém conseguirá abarcar a total profundidade de um mero acontecimento.
Ao longo da tradição exegética, foram sendo apresentadas várias hipóteses para a explicação do livro dos Actos dos Apóstolos, entre elas destacam-se seis: a) Continuação do Evangelho; b) Apologia pró Ecclesia; c) Monografia histórica; d) Romance histórico; e) História Apologética; f) “História do começo” ou “Relato de Origem”. É neste último tipo que se inserem os Actos.
Nos nossos dias, ganha força uma nova visão da teoria histórica esta é a História em sentido forte ou História poética, esta, praticando uma visão contemplativa da realidade, relê o passado, em relatos fundadores, permitindo aos grupos construir as suas histórias e identidades. O reconhecimento da dimensão poética é fundamental, porque, através do exercício contemplativo – “observação atenta do real, da «espantosa realidade das coisas» - liberta o historiador em relação ao símbolo. A teologia é intrínseca a uma visão historeográfica poética, porque visa contemplar a realidade, não no emaranhado dos factos, mas alcançando o fio condutor da história, a chave hermenêutica, aquilo que dá e desvenda o significado da história.

Um comentário:

Helena Franco disse...

ROBERTO, Li com atenção o teu último post, que se encontra sintetizado no título "Os actos e a contemplação da história". Contribuiste para eu ver com mais clareza que a história poética é exercício contemplativo. E contribuiste para eu achar na "espantosa realidade" um fio condutor do significado da história. Fico, agora, a pensar em estudar história com a pergunta não sobre as datas díficeis de memorizar, mas sobre o espanto espantoso do real. É mais fácil, depois do teu post lido atentamente, compreender a conexão entre a teologia e a história, porque uma teologia sem história poética, quanto a mim, tocaria o irreal e o surreal. BOM POST.