segunda-feira

Jesus construtor da "comum - unidade"

Como vimos, algumas das personagens são representantes da comunidade: Estêvão, Pedro, Paulo, Barnabé, etc. No caso da personagem Jesus acontece o contrário: Ele não representa a comunidade mas é a comunidade que o re-apresenta a Ele. Consequentemente, nessas personagens singulares em que podemos ver o colectivo, também podemos ver o próprio Jesus, na medida em que representando a comunidade O representam também a Ele.

Exemplifico com alguns paralelismos interessantes: na cura do coxo por parte de Pedro e João entrevemos os milagres de Jesus (são relatos distintos mas com traços de continuidade). A última expressão de Estêvão - “Senhor, não lhes atribuas este pecado” é o eco de uma das frases de Jesus na cruz (Lc 23,34). A itinerância de Paulo pode ser vista como uma “ampliação” da itinerância de Jesus durante a Sua vida pública até à entrada derradeira em Jerusalém (segundo o esquema dos Sinópticos). O próprio processo judicial da condenação de Paulo tem traços comuns com o processo da condenação de Jesus: a ida para Jerusalém, as “armadilhas” do Sinédrio, o facto de andar a saltitar de político para político, etc.

De certa forma, a comunidade é como que uma “sala” de espelhos de Jesus, em que cada personagem constituinte da comunidade o reflecte, num jeito próprio. Elas são, de facto, re-apresentações de Jesus, mas não a papel químico: Jesus vai conduzir a comunidade a descobertas surpreendentes acerca da sua identidade e do seu destino, isto é, revela respostas imprevistas às questões: “Quem somos?” “Para onde vamos?”. Vemos que a auto-percepção que a comunidade tem de si e da sua missão sofre uma metamorfose ao longo da obra. Do grupo de apóstolos inicial fixo em Jerusalém passamos para uma multidão imensa, de ex-Pagãos e ex-Judeus, disseminada pela faixa territorial entre Jerusalém e Roma.

Esta construção da comunidade é feita por Jesus mas através do Espírito Santo. É por ele que Jesus vai actuando na comunidade e através da comunidade (baseando-me numa frase da Julie), constituindo-se Ele como a “comum unidade” da comunidade. Como conclusão, posso afirmar que não é só Jesus que constrói a comunidade, é também a comunidade que reconstrói Jesus.

2 comentários:

Julie disse...

Uau! Citaste-me! :P
Realmente dá que pensar, pois há tantas representações de Jesus que até espanta. Não só me refiro à arte, aos títulos ou às percepções de Jesus ao longo dos séculos, mas às representação de significado e conteúdo que tem cada indivíduo. Cada pessoa tem uma reconstrução/percepção/sentido de Jesus que, embora possa corresponder a alguns modelos artísticos ou linguísticos existentes, é completamente única e especial!

zeferino disse...

"é também a comunidade que constroi jesus", gostei muito a análise exegética que fizeste, é de facto importante, e a relação que apresentaste de estevão sobretudo no momento do seu martirio e a ligação que fazes com Jesus, todo este empenho é beneficopara nossa compreensão teológica da realidade. valeu cátia... sempre zefe