segunda-feira

Apolo 2: a voz do que clama em Éfeso

A breve biografia de Apolo e o micro-relato que se lhe segue (Act 18,24-19,7) iluminam a estratégia narrativa de um modo paradigmático. De facto, Apolo é «natural de Alexandria», o maior centro cultural do império romano; e é um verdadeiro «judeu», «conhecedor profundo das Escrituras», o que não é de estranhar, porque fora na colónia judaica de Alexandria que se fizera a tradução dos LXX. Ele tinha sido «instruído no caminho do Senhor», mas seguia um ramo do cristianismo em que só se conhecia «o baptismo de João», de arrependimento e com água, sem o Espírito Santo. É ao pregar na sinagoga de Éfeso a mensagem que conhecia que se encontra com dois discípulos de Paulo, Priscila e Áquila, os quais «lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus»; entende-se que tenha aceitado essas correcções com toda a humildade, pois chegará a pedir a recomendação destes irmãos para se dirigir aos discípulos de Corinto. Aí convencia «publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo». De facto, aqui se vê como «quem não está contra Cristo está por Cristo», que o cristianismo é uma experiência que evolui e está aberta a todos os que a aceitarem com humildade, sem defenderem ciosamente os seus pontos de vista. Paulo, voltando a Éfeso (onde anteriormente estivera de passagem), encontrará alguns discípulos, provavelmente «convertidos» por Apolo, que não sabiam sequer da existência do Espírito Santo; anunciando o Nome de Jesus, acerca do Qual profetizara João Baptista, eles pedem o Baptismo e recebem o Espírito Santo, sendo 12 homens, símbolo do Povo Eleito. De seguida Paulo levará esses 12 da sinagoga para a escola de Tiranos, fazendo algo profundamente original. Ora, se a personagem de Paulo está escrita em síncrese com a de Jesus, vê-se que aqui Apolo é narrado em síncrese com João Baptista, porque também preparou, para os judeus de Éfeso, o caminho do cristianismo anunciado por Paulo de um modo mais perfeito.

David Pernas

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