sexta-feira

ACTOS DOS APÓSTOLOS - UMA PERSONAGEM E UM PROGRAMA TEOLÓGICO

Pedro e Tabita (Dorcas) são as personagens principais do seguinte micro-relato lucano: Act 9,36-43 - A ressurreição de Dorcas. (1)

A doença e morte de Tabita (Dorcas) foi motivo para dois homens, membros do povo judeu, interpelarem Pedro (Act 9,37-38). Pedro tem os mesmos poderes taumatúrgicos de Jesus? Mais do que isso. A ressurreição de Dorcas revela a presença de Jesus ressuscitado. Jesus é o Senhor.

Crer em Jesus, como a discípula actuante na comunidade, é ter necessariamente a possibilidade da Salvação.
Tabita (Dorcas) era “notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (Act 9,36) e, assim, integrava na comunidade viúvas pobres e estrangeiras. Ela era uma exemplar mulher de fé, uma tecelã (2) capaz de prosperidade e tinha total dedicação à comunidade, razões pelas quais Pedro a ressuscita. A primeira dessas razões de ser ressuscitada é, evidentemente, a fé, ou melhor a comunhão com Jesus que liberta e é presença de amor. Ser generosa e compassiva não teria sido suficiente.

Ressuscitando Tabita (Dorcas), Pedro exprime, pragmaticamente, o amor ao próximo e a fidelidade a Deus. Ambos fazem parte de uma comunidade judia que não fica fechada sobre si-mesma, mas interessa-se, profundamente, pelo desenvolvimento da missão fora do Judaísmo. Os que crêem em Jesus Messias, os discípulos, formam a Igreja. A Igreja tem as suas raízes do lado de Jerusalém, e em Jope, o que significa que a História da Salvação começa em Israel, ainda que se abra à universalidade.

O Império Romano é não só o espaço geográfico e político de expansão, mas o espaço que engloba a antiguidade judia e a modernidade romana. De um lado está a tradição, do outro a abertura ao mundo. É mais fácil aceder ao Deus universal a partir da universalidade do Império.

O autor dos Actos dos Apóstolos é, essencialmente, o homem da integração, que interpela a Igreja de todos os tempos à unidade e à comunhão, à pregação universal do Evangelho, à vida segundo o Espírito de Deus. Ele constrói uma tensão entre Jerusalém e Roma, na procura da identidade cristã que se forma entre o particular e o universal, entre as origens e o futuro, entre a tradição e a abertura ao mundo. Ele constrói uma personagem chamada Tabita (Dorcas) no pólo de Jerusalém, dada a sua proximidade geográfica, cultural e religiosa de Jope.


(1) Há na Bíblia , além desta ressureição, várias menções à ressureição (em grego: anastasis, anazao, egeiro) :
Elias – ressuscitou o filho de uma viúva (1Rs 17,17-24)
Elizeu – um filho de um sunamita (2Rs 4,32-37)
Jesus – filha de Jairo (Mt 9,18-26; Mc 5,21-24.35-43; Lc 8,40-42.49-56) ; filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17); Lázaro (Jo 11,1-44)
Duas testemunhas no período da Tribulação – Ap 11,3-13
Senhor Jesus Cristo (Mt 28,6-7;Lc 24,34;Jo 2,22)

(2) Na Bíblia, que tem carácter fundacional da nossa civilização, ao definir uma mulher forte e virtuosa, o autor do Livro dos Provérbios reconhece nela as qualidades de uma tecelã capaz de garantir a prosperidade e conquistar a sabedoria, a partir do seu trabalho manual.

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL: MARGUERAT, Daniel, “Un Programme Théologique d’Intégration” in La Première Histoire du ChristianismeLes Actes des Apôtres, Labor et Fides – Cerf, Genève – Paris, 1999

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HELENA FRANCO
2007-10-26























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