quinta-feira

ACTOS DOS APÓSTOLOS - "TODOS NÓS SOMOS JUDEUS"

Ficámos profundamente chocados, ao ouvir Esther Mucznick, judia, no evento “Religiões, Diversidade e Não-Discriminação” que teve lugar a 19 de Outubro na Fundação Mário Soares. Ela fez uma comunicação, em que deu ênfase a uma informação, já noticiada pelos meios de comunicação social, que não nos deixou indiferentes, uma vez que temos o suporte da nossa realização espiritual na comunidade humana.

Chocou-nos, pois, o facto dos Hammerskin, os quais constituem um movimento neonazi dos mais radicais a nível mundial, na noite de 25 de Setembro, terem vandalizado 17 campas no cemitério judaico de Lisboa, e terem cravado nas pedras das lápides cruzes suásticas nazis.

Sabe-se que o líder dos perigosos Portuguese Hammerskins é o skinhead Mário Machado. Por outro lado, sabe-se que o “lobo nazi” como se apresenta o skinhead Carlos Seabra vandalizou o referido cemitério. Predador, nefasto, ardiloso, devorador, “o homem é lobo para outro homem”. (1)

Pudéssemos nós saber o que se passa no subsolo, a decomposição irreversível dos corpos, então no nosso percurso existencial não haveria talvez lugar para o anti-semitismo, isto é, para a expressão do ódio e da violência raciais.

O Parlamento afirmou que “a liberdade religiosa, a compreensão recíproca e o diálogo entre diversas culturas e valores civilizacionais constituem património intangível da sociedade contemporânea em Portugal”, ao aprovar por unanimidade voto a condenar os actos de vandalismo ao cemitério judaico.

Quando a comunidade israelita de Lisboa teve uma cerimónia associada a este crime (2), Alberto Costa, ministro da Justiça, declarou: “perante esta agressão, todos nós somos judeus”.

Emocionalmente, afirmamos que o cristianismo tem berço judaico. Afirmamos, ainda, que a comunidade cristã das origens tem uma perspectiva sociológica, histórica, antropológica e teológica baseada na partilha (Act 2, 42-47). E é, de certo modo, a partilha que caracteriza esta comunidade de leitores.


(1) Homo homini lupus.Trata-se de uma expressão latina de Maquiavel, a partir do pensamento do poeta latino do século III a.C. Plauto.

(2) Este crime foi qualificado pela Comunidade Israelita de Lisboa não só crime contra a comunidade Judaica, bem como uma ofensa à Sociedade Civil Portuguesa, à Democracia e ao Estado de Direito.


HELENA FRANCO
2007-10-25

Um comentário:

Helena Franco disse...

Nota da autora, Errata: onde se lê: "Pudéssemos nós saber o que se passa no subsolo..." deverá ler-se: "Pudéssemos nós, gente comun, saber, como os peritos sabem, o que se passa no subsolo..."