segunda-feira

ACTOS DOS APÓSTOLOS – EM QUE MEDIDA SÃO HISTÓRIA?


istória e Teologia estão, nos Actos dos Apóstolos, intimamente ligadas pela palavra e pelo silêncio que a fecunda. Daí a importância da contemplação, isto é, de ver o que está a acontecer, absorvendo a realidade de um modo profundo, segundo uma ordem e objectividade necessárias ao “fazer História”.

Como amor ipse intellectus, a História moderna, preconizada pelo historiador José Mattoso, entre outros, faz-se com paixão, no encalço, primeiro, dos documentos, segundo, da representação mental (momento de silêncio) e terceiro, da escrita (momento da palavra, do Logos criador). Então, a História torna-se arte, em que cabe o dom carismático, e torna-se ciência.

O conceito inovador de Paul Ricoeur de História poética encontra em José Mattoso a amplidão de um olhar que nos permite direccionar o nosso olhar para os Actos dos Apóstolos e fazer as afirmações que se seguem:

- Os Actos dos Apóstolos são uma História poética, na medida em que se centram na esfera da fé e na esfera da Teologia.

- Deus, nos Actos dos Apóstolos, constrói a História. Há, ainda, um carácter fundacional, pois a Igreja ganha autoconsciência de si.

- Em toda a narrativa dos Actos dos Apóstolos, o símbolo marca presença, sendo de uma ordem diferente da ordem fenomenológica, bem como o fluxo do real que diferencia esta narrativa da literatura greco-romana, mesmo quando há elementos tipicamente literários.

- Os Actos dos Apóstolos têm espessura diacrónica, dando relevo à duração, e têm coincidências impressionantes como os dados da História profana, da cultura e da geografia, como é o caso do Naufrágio de Paulo de Tarso (Act 27-28).

- Lucas, ao escrever os Actos dos Apóstolos entre os anos 60 e 90, quis fazer História e Teologia, ao mesmo tempo. Lucas é, pois, um teólogo-historiador.

- Os Actos dos Apóstolos não são uma mera crónica de acontecimentos, ou seja, não são mera história documental, e contêm uma profunda Teologia da História, redimensionada pela História poética.

- Em jeito de conclusão: os relatos dos Actos dos Apóstolos são História e, em simultâneo, Teologia, pois mostram Deus, autor e actor principal na História da Salvação. Importa, por isso, acrescentar que o nosso discurso segue um movimento circular, que põe em destaque o binómio História/Teologia.


HELENA FRANCO
2007-10-08

4 comentários:

Julie disse...

Gosto sempre dos teus posts muito creativos e das imagens que lhes dão vida. Gostei da parte de Deus construir a história, pois os Actos dos Apóstolos não são só história mas também tratam especificamente o tema da história! Realmente vê-se a mão de Deus na história e nas nossas vidas, o que é o sentido profundo da história por excelência.

Cátia Sofia Tuna disse...

Querida Helena,
quero agradecer-te pelo teu "espírito comunitário". O professor referiu-o na aula, mas eu acho importante sublinhá-lo. Muito bem e muito obrigada!

MaRcO disse...

O mapa fica 5*. Já para não falar do enquadramento que dá ao post.

Helena Franco disse...

OBRIGADA, JULIE!

Sim. Deus faz História com todos e cada um de nós. Com a sua mão... Com as nossas mãos...

Entre todas as palavras que escreveste no comentário ao meu post, sobressai a palavra: MÃO.

Partilho, pois, contigo o poema de Manuel Alegre "MÃOS":

"Com as mãos se faz a paz se faz a guerra
Com as mãos tudo se faz e se desfaz
Com as mãos se faz o poema - e são da terra
Com as mãos se faz a guerra e são a paz

Com as mãos se rasga o mar. Com as mãos se lavra
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas no vento: verdes Harpas

De mãos é cada flor cada cidade
Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a Liberdade."

OBRIGADA, CÁTIA!

Sinto-me honrada com o teu comentário e, mais ainda, com o facto de me citares no teu post.

OBRIGADA, MARCO!

A pesquisa das imagens não é tempo perdido, quando alguém como tu valoriza o resultado, ao referir-se ao mapa que enquadra o post.

Tal como o mar Mediterrâneo não divide, mas une, fiquemos nós todos unidos pelas linhas que escrevemos neste blog.