terça-feira

PRIMEIRA CARTA DE PEDRO - PSICOLOGIA E TEOLOGIA

CONCEITO DE PESSOA - I

A génese da pessoa é, no nosso entendimento, o aparecimento da primeira estrutura de células por volta das 8 semanas da gravidez, quando o embrião passa ser feto, estando completamente no estágio fetal, o estágio final da gestação, pelas 12 semanas. “Ainda no interior do útero, cada um de nós é único.” (1) E é esta singularidade que nos faz pessoas.

Oikos, a casa é precedida pelo útero materno. Ambos determinam o que a pessoa é. Ambos dão identidade à pessoa. Se o estudo da Primeira Carta de Pedro de John H. Elliot, Un hogar para los que non tienen patria nem hogar, nos detém, neste post, sobre o conceito de oikos (casa) associado ao de pessoa, deter-nos-á, no próximo post, sobre o conceito de paroikos (fora-de-casa) associado a esse mesmo conceito. Começamos, no entanto, a desbravar um cam
inho de reflexão teológica desta Carta, com base na psicologia do desenvolvimento e na psicologia rogeriana em diálogo com a teologia de Paul Tillich.

Que é, nesta Carta, ser pessoa? Há, em nosso entender, um nexo entre Paulo e Pedro. Ambos fundam uma nova política das coisas, ao fundarem o sujeito.

A pessoa é uma construção do Cristianismo. O Cristianismo é, na Primeira Carta de Pedro, anunciado como uma oikos pneumatikos (casa espiritual) [1 Pe 2,5]. E os cristãos são oikou tou Theou (casa de Deus) [1 Pe 4,17].

Ser pessoa é estar no tempo e no espaço, na biografia e na história, desde a vida intra-uterina até ao trânsito para a vida extra-uterina (como veremos no próximo post), sem ser o oposto da sua natureza essencial. Ser pessoa é ser um indivíduo realmente vivo, ou por outras palavras, ser “pedra que vive” (1 Pe 2,5) da natureza da “principal pedra, angular” (1 Pe 2,7), isto é, da natureza de Cristo.

Nas Cartas de Paulo e na Primeira Carta de Pedro, ser pessoa corresponde à mesma função de identificação em que o Cristianismo é uma identidade dada pela pessoa de Cristo.

A especificidade cristã é ser uma alternativa aos laços sociais caducos. Trata-se, então, de se tornar social, no sentido em que o teólogo Paul Tillich afirma, no decorrer de um diálogo com o psicólogo Carl Rogers (2):

“Tornar-se social tem a ver com o amor, no sentido da palavra grega agape, que é uma palavra particular no Novo Testamento, que significa aquele amor que é descrito por Paulo em 1 Cor 13, e que aceita o outro como pessoa e então tenta reunificar o homem, ultrapassando a separação existencial, que existe entre o homem e o homem.”

Neste sentido, tornar-se social é tornar-se cristão. E tornar-se cristão é tornar-se mais e mais humano.


(1) PAPALIA- OLDS, Human Development, McGRAW-HILL,INC, 1995, p 73.
(2) O diálogo entre Paul Tillich e Carl Rogers ocorreu a 7 de Março de 1965 no estúdio da rádio/televisão de San Diego Styate Collegw in Califórnia. Foi a última aparição pública de Tillich. (Carl Rogers: Dialogues, Edited by Howard Kirkchenbaum and Valene Land Henderson, Houshton Miflin Company, Boston, 1989)



HELENA FRANCO
2007-12-18

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