sexta-feira

a Epístola de palha?

Durante a Reforma, alguns teólogos, como Martinho Lutero, argumentavam que a epístola de Tiago não deveria integrar o cânone do Novo Testamento, devido à controvérsia entre a "justificação pelas obras", ali contida, e a "justificação pela fé" pregada nas cartas paulinas. Lutero via aí uma contradição com a doutrina da sola fide ("somente pela fé"). Esta epístola difere de todas as outras epístolas do Novo Testamento por não tratar de assuntos como: salvação, Igreja, Espírito Santo, vida futura, etc., e por isto tudo Lutero chegou a chamá-la “epístola de palha”.
Na verdade o argumento da "justificação pelas obras", desenvolvido por Tiago (2,14-26), pode ser contrastado com a doutrina da "justificação pela fé", defendida por Paulo em suas epístolas. Mas qualquer suposto conflito doutrinário entre esta carta e a de Romanos parece não ter qualquer fundamento. A pregação de Paulo nesta carta tem de ser vista como defesa perante a posição dos chefes das esferas do judaísmo nas igrejas em questões da lei e do templo, dando naturalmente grande ênfase à justificação pela fé sem necessidade da observância da lei. Todavia, quando ele escreveu a Tito, o tema principal de sua carta foi: a importância das boas obras (Tt 2, 7-8), mostrando deste modo uma perfeita harmonia com os ensinos de Tiago. Em Ats 26,20, Paulo diz que ele tem pregado “o arrependimento e a conversão a Deus, com a prática de obras dignas desse arrependimento”, outra passagem que demonstra que Paulo concordava com Tiago em que a fé verdadeira (ou "viva") é acompanhada de obras. Por outro lado, os padres da Igreja conciliavam as duas posturas vendo que a fé salvadora e verdadeira é a que pelo amor é acompanhada de boas obras, por oposição à fé que é apenas uma adesão intelectual a um conjunto de verdades reveladas. É evidente que Tiago, quando parece depreciar a fé, se refere apenas ao assentimento intelectual da verdade e não à fé salvadora a que se refere Paulo.

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