Os texto bíblicos apontam o coração como o local onde se dá a fusão da dimensão psíquica e espiritual. É, pois no coração dos homens que Deus opera e é nele que se dá a sua transformação total. Se o homem não deixar que a acção de Deus toque o seu coração a sua conversão será sempre parcial. O homem tem de se deixar tocar tocar por Deus no seu coração, porque se Deus não tocar naquele que é o centro das vontades e paixões no homem, estas não atingirão as dimensões do amor de Deus, mas continuarão a ser paixão do homem que perecerão como perece a "flor da erva" (cf. Tg 1, 10). O desafio das obras e do amor verdadeiro são o estimulo que estão contido no coração do homem. Esta é a perspectiva que nos dá a primeira carta de Pedro, nas três vezes que encontramos a palavra coração:
1Pe 1, 22-23: "Já que purificastes as vossas almas pela obediência à verdade que leva a um sincero amor fraterno, amai-vos intensamente uns aos outros do fundo do coração, como quem nasceu de novo, não de uma semente corruptível, mas de um germe incorruptível, a saber, por meio da palavra de Deus, viva e perene."
Esta passagem da carta de Pedro apresenta-nos o coração como o local onde a palavra é transformada em verdadeiro amor. Ou melhor, como a palavra pode purificar os corações daqueles que a acolhem, podemos ainda dizer que estas palavras da carta seguem a lógica que na carta de Tiago nos é lançada em 3,14 e 4,8; onde somos chamados a não ter um coração dúbio.
1Pe 3, 3-4: "Que o vosso adorno não seja o exterior - arranjo do cabelo, jóias de ouro, roupa vistosa - mas, sim, o interior, que está oculto no coração, o adorno duradouro de uma alma mansa e serena; este é o adorno de maior valor aos olhos de Deus."
Aqui , o desafio é claro. Não nos agarremos ao corruptível, mas sim ao incorruptível, o coração é assim o local da verdadeira riqueza.
1Pe 3, 14-15: "Mas, se tiverdes de padecer por causa da justiça, felizes de vós! Não temais as suas ameaças, nem vos deixeis perturbar; mas, no íntimo do vosso coração, confessa Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça."
Nesta terceira passagem, a qual podemos identificar esta esperança a que o coração desafia os cristãos a testemunhar com paciência para vinda do Senhor, como refletimos no post anterior sobre a carta de Tiago (cf. Tg. 5, 7. 8).
Podemos dizer que a palavra coração não tem propriamente um campo semântico, mas sim um conjunto de sentidos, sentimentos, emoções e outras tantas dimensões particularmente humanas que lhe são atribuídas.