terça-feira

ACTOS E EPÍSTOLAS CATÓLICAS - SABES QUE NOTA ELE TE VAI DAR?

PEÕES EM JOGO- A QUESTÃO PEDAGÓGICA


O último cenário do filme “Peões em jogo” é o de dois universitários de Ciências Políticas, alunos de Stephen Malley (interpretado por Robert Redford), a dialogarem sobre a entrevista de um deles com o referido professor. Sendo este estudante muito absentista e desinteressado, o colega pergunta-lhe se o professor Malley o vai chumbar, pois é sobre as notas que ele lhe diz terem falado. Pensativamente, responde-lhe que não. “Sabes que nota ele te vai dar?” – é a pergunta final. O silêncio do estudante com grande potencial, apesar da sua desmotivação, marca o fim do filme, que segue três fios narrativos entrelaçados: imprensa, política e educação.

Há dois antigos alunos de Malley que, nas montanhas do Afeganistão, em pleno cenário de guerra, lutam pela sobrevivência. Outrora alunos brilhantes, na América, estão, posteriormente, empenhados como indivíduos nas suas causas pessoais e nas do seu país. De algum modo, por terem sido alunos de Malley que, pedagogicamente, os impede de virarem as costas à realidade. Antes agir, mesmo falhando, do que nada fazer.

O estudante pensativo e silencioso do fim do filme tem de resistir a uma vida acomodada e aburguesada, segundo a pedagógica confrontação com o professor Malley. Não é tanto acerca de notas que eles, na entrevista, falaram (isso é o que menos importa!), mas sobre a vida real, que tem as necessárias implicações do intervir ou participar.

Se “a participação a[c]tiva sistemática [na Faculdade de Teologia] custa[-nos] esforço e um esforço que nem todos os professores e os estudantes têm coragem de assumir” (1), mais ainda sermos participantes na sociedade e na Igreja.

Há uma grande revolução numa educação verdadeiramente humanista, centrada na pessoa. (2) A pessoa de todo o estudante há-de responsabilizar-se pela sua própria aprendizagem e pela sua vida, o que muda tudo. O argumento de Mattthew Carnahan "Lions for lambs" ("Peões em jogo") é, em termos pedagógicos, revolucionário. Muda tudo.

Dizer que a teologia é uma actividade intelectual é dizer pouco. A teologia é nascitura da fé. E a fé está no âmago da pessoa do estudante de teologia, para quem é imprescindível o confronto com os melhores professores, que são os homens e as mulheres do confronto com o real, por outras palavras, os pedagogos de agora (e para sempre).

(1) ALSZEGHY-FLICK, Como se faz teologia, Paulinas, São Paulo, 1979, 219.
(2) Cf ROGERS-ROSENBERG, A pessoa como centro, E.P.U.,São Paulo, 1977, 141.

HELENA FRANCO
2007-12-19

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