segunda-feira

Estêvão para gregos e troianos

Na economia narrativa de Lucas no livro dos Actos dos Apóstolos, Estêvão aparece aquando de sucessivas contendas entre a comunidade dos judeus e o novo grupo dos je ne sais quoi. Lucas apresenta os judeus de pedigree fartos destes judeus de segunda. Como que em provocação, Estêvão, um híbrido, judeu-helenista, aparece no auge da saturação. O autor, não só faz questão de colocar um semi-grego a “fazer prodígios” entre o povo como o coloca a ensinar a história da salvação aos mestres de Israel. A sua morte, já esperada depois de tamanha hybris, simboliza o início de uma outra saturação, de uma desistência dos puro-sangue por parte destes insubordinados, e uma incursão no mundo dos esquecidos. Com o placet de Saulo na lapidação do diácono protomártir procura-se outra integração e outra tentativa de recuperar destinatários. Paulo acabaria por personificar o paradoxo do judeu ferrenho convertido e enviado aos paroikós, aos de fora de casa. Lucas revela a sua singularidade de narrador integrador ao saber dominar o papagaio não deixando escapar nenhum fio.

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