quarta-feira

Matias

Lucas narra a eleição de Matias num trecho pleno de simbolismo.
Pedro está à frente da proto-comunidade, cento e vinte pessoas, como cabeça dos apóstolos que a guiam. Toma a palavra e, relendo a escritura sob a luz dos acontecimentos recentes, anuncia a necessidade de escolher alguém idóneo que ocupe o lugar deixado por Judas, a fim de que o grupo dos apóstolos fique completo e possa cumprir a missão que lhe foi confiada por Jesus, para a qual os havia de antemão preparado. Este é um gesto cheio de significado, há um claro paralelismo que transparece nos números, doze são as tribos de Israel, doze os escolhidos por Jesus numa praia da Galileia. Por outro lado, cento e vinte é o número dos fiéis reunidos, estes são os primeiros membros do novo Israel, à cabeça dos quais os apóstolos, pelo seu ministério, radicado em Jesus, devem presidir. A escolha de um novo apóstolo é um acto eminentemente simbólico que vem fechar um círculo, a narrativa que se segue é a do Pentecostes, a abertura definitiva da nova comunidade ao mundo e o início por excelência da experiência/vivência missionária do período apostólico.
Os candidatos devem ter acompanhado Jesus e os apóstolos desde o baptismo de João até à ascensão e ser testemunhas da ressurreição do Senhor. Estes termos são, de certa maneira programáticos, os apóstolos são os pilares da Igreja, eles conviveram com o mestre e o seu papel é serem testemunhas da sua vida, morte e ressurreição, assim como portadores da sua promessa. A comunidade apresenta dois homens, José, chamado Barssabás cognominado Justo e Matias. Depois de uma oração em que se pede a Jesus que mostre sobre qual recai a sua escolha, lançam-se sortes e esta vem a cair sobre Matias que é associado aos onze. Nada mais é dito, podemos apenas supor que estava juntamente com toda a comunidade, visto “estarem todos reunidos” no dia de Pentecostes, contudo, depreendemos o seu caminho, guiar a comunidade e ser testemunha da Salvação de Deus.

terça-feira

será o livro dos Actos uma história

Será o livro dos Actos uma história?
Se é certo que o autor do livro dos Actos dos Apóstolos é S. Lucas! Então, podemos dizer que ele teve uma visão muito ampla quanto ao seu projecto de escrita. O autor dos Actos dos Apóstolos teve um ideal, projecto de transmitir uma realidade que está para além da nossa interpretação, quer poética, histórica e narrativa.
O livro dos Actos dos Apóstolos podemos designá-lo como história, mas não a maneira moderna, científica; ele é história na medida em que tem a ver com a realidade da nossa experiência humana. Ele não assenta numa base histórica – factual como um jornalista que descreve um acidente numa noite em que depois de um ano vem um outro jornalista a averiguar se o anterior jornalista escreveu tudo que aconteceu ou não no acidente.
O livro dos Actos é portador de um sentido, ele é história porque também tem um valor teológico. Ele permite-nos entrar numa relação com o transcendente.
O livro dos actos pode ser chamado história enquanto memória. Cada ser humano tem a capacidade de fazer a história de si mesmo, dos seus parentes; por isso, tudo aquilo que a pessoa vai escrever sobre si, ou acerca dos seus pais é uma história, porque actualiza e torna presente o que eles eram ou fizeram; a sua escrita se torna vital para quem a lê ou a escuta. Ora, podemos pensar o livro dos Actos nessa perspectiva?
O livro dos Actos remete-nos para o presente de maneira diferente e profunda, como dizia Mattoso que “A história não é a comemoração do passado, mas uma forma de interpretar o presente”. Por isso mesmo, o livro dos Actos deve ser lido com muita profundidade porque ele nos traz uma riqueza inesgotável.

segunda-feira

ACTOS DOS APÓSTOLOS – EM QUE MEDIDA SÃO HISTÓRIA?


istória e Teologia estão, nos Actos dos Apóstolos, intimamente ligadas pela palavra e pelo silêncio que a fecunda. Daí a importância da contemplação, isto é, de ver o que está a acontecer, absorvendo a realidade de um modo profundo, segundo uma ordem e objectividade necessárias ao “fazer História”.

Como amor ipse intellectus, a História moderna, preconizada pelo historiador José Mattoso, entre outros, faz-se com paixão, no encalço, primeiro, dos documentos, segundo, da representação mental (momento de silêncio) e terceiro, da escrita (momento da palavra, do Logos criador). Então, a História torna-se arte, em que cabe o dom carismático, e torna-se ciência.

O conceito inovador de Paul Ricoeur de História poética encontra em José Mattoso a amplidão de um olhar que nos permite direccionar o nosso olhar para os Actos dos Apóstolos e fazer as afirmações que se seguem:

- Os Actos dos Apóstolos são uma História poética, na medida em que se centram na esfera da fé e na esfera da Teologia.

- Deus, nos Actos dos Apóstolos, constrói a História. Há, ainda, um carácter fundacional, pois a Igreja ganha autoconsciência de si.

- Em toda a narrativa dos Actos dos Apóstolos, o símbolo marca presença, sendo de uma ordem diferente da ordem fenomenológica, bem como o fluxo do real que diferencia esta narrativa da literatura greco-romana, mesmo quando há elementos tipicamente literários.

- Os Actos dos Apóstolos têm espessura diacrónica, dando relevo à duração, e têm coincidências impressionantes como os dados da História profana, da cultura e da geografia, como é o caso do Naufrágio de Paulo de Tarso (Act 27-28).

- Lucas, ao escrever os Actos dos Apóstolos entre os anos 60 e 90, quis fazer História e Teologia, ao mesmo tempo. Lucas é, pois, um teólogo-historiador.

- Os Actos dos Apóstolos não são uma mera crónica de acontecimentos, ou seja, não são mera história documental, e contêm uma profunda Teologia da História, redimensionada pela História poética.

- Em jeito de conclusão: os relatos dos Actos dos Apóstolos são História e, em simultâneo, Teologia, pois mostram Deus, autor e actor principal na História da Salvação. Importa, por isso, acrescentar que o nosso discurso segue um movimento circular, que põe em destaque o binómio História/Teologia.


HELENA FRANCO
2007-10-08

O eunuco etíope

A personagem que escolhi foi a do eunuco etíope, act. 8, 26-40.
Este personagem, ao qual Lucas não dá o nome, era um importante funcionário da rainha Candace, rainha da Etiópia. Foi baptizado pelo Evangelista Filipe que se dirigia de Jerusalém para o o Sul.
São Lucas conta que o eunuco estava a regressar da sua peregrinação a Jerusalém e lia pelo caminho o Profeta Isaías.
Filipe, movido pelo Espírito, questiona-o sobre se ele compreende a passagem que lê. O eunuco convida-o e lê um texto que se encontra no capítulo 53 do livro do profeta Isaías, uma passagem profética do Messias, a qual descreve o sofrimento sacrificial daquele que foi «como ovelha levada ao matadouro, e como cordeiro sem voz diante daquele que o tosquia, assim Ele não abre a boca» (Is. 53, 7-8). O eunuco indagou Felipe se o autor estava referindo-se a si mesmo ou a uma outra pessoa. Então Felipe, movido pelo Espírito, partindo daquela passagem, anunciou-lhe Jesus enquanto continuavam no trajecto. Durante o percurso, o eunuco pediu que fosse baptizado por Felipe assim que identificou um lugar onde havia água, confessando, assim, a sua fé e a sua adesão a Jesus Cristo «Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus». Depois disso, o eunuco prosseguiu no seu caminho de volta à Etiópia cheio de alegria.

[Ananias & Safira]

os primeiros capítulos do texto empenham-se em descrever a vivência da primeira comunidade cristã e todas as suas experiências quotidianas numa perfeita forma eclesiológica, é nesse contexto que ganha importância a personagem de Ananias e de Safira, sua mulher.
se a igreja nascente, após a ressurreição do Salvador e guiada pela força do Espírito Santo e dentro da Sua força, é um novo espaço de perfeita comunhão com Deus [um novo paraíso ou renascença pelo espírito], Ananias e Safira surgem como o primeiro casal nessa nova realidade e tal como os seus equivalentes no texto do Génesis quebram a harmonia dessa aliança primordial mentindo sobre o preço da venda do seu terreno (actos 5, 1-2).

porque o fariam?

talvez pelo desejo de serem reconhecidos nesse novo espaço de Graça, mas a Salvação não pode ser comprada e daí o seu destino infeliz;
gosto de crer que este é um episódio metafórico no qual o autor lucano mostra a força espiritual da Igreja
[a mentira, refere o texto não surge do Espírito Santo, mas de Satanás (actos 5, 3), tal como no episódio vetero-testamentário, o que mostra os infelizes personagens já mortos espiritualmente e assim quando contactam com a comunidade apostólica expiram], Ananias e Safira, que pela Graça, estavam dentro desse novo espaço de Deus, pela falta de ambos assim se encontram excomungados; aliás esse simbolismo da autenticidade da Igreja, do novo Israel, é reforçado pelo autor após o episódio (actos 5, 11).

domingo

Matias substitui Judas Iscariote


A figura que eu escolhi foi a de Matias. Uma figura substituinte de Judas. Judas era um dos 12 discípulos de Jesus e que também foi o guia dos que prenderam Jesus. Ele tinha recebido uma parte do ministério dos discípulos. Como ele suicidou-se portanto precisava de alguém que substituísse o lugar dele. O critério era para escolher um homem que acompanhou durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio deles, a partir do baptismo de João até ao dia em que lhes foi arrebatado par o Alto que seja testemunho da ressurreição do Jesus Cristo.
Então escolheram dois homens piedosos, um era José de apelido Barsabas, chamado justo e Matias. Os apóstolos depois de ter rezado ao senhor tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias que foi incluído entre os onze Apóstolos.
Assim a personagem Matias ocupa um lugar muito importante, ser apóstolo de Senhor Jesus o que muitos desejaram mas não conseguiram.

Actos dos Apóstolos: 1, 23, 26

23 Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias.
26 E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.
Thumma Dayakar Reddy

Personagem: Estêvão

O nome de Estêvão aparece nos seguintes versículos de Actos dos Apóstolos a saber Actos 6,5; 6,8; 6,9; 6,15; 7,2; 7,55; 7,59; 8,2; 11,19; 22,20. Estêvão era um daqueles sete homens de confiança, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. A vida de Estêvão cria uma enorme empatia em nós. Ele viveu por Cristo fazendo milagres e maravilhas entre o povo (6,8). Estêvão pertencia a um grupo de cristãos que pregava uma mensagem mais radical, um grupo que ficou conhecido como os helenistas, judeus que tinham vivido fora da Palestina. Os helenistas tinham uma adaptação da cultura grega.
O Estêvão é um representante do novo movimento que entra em conflito com o judaísmo de Jerusalém. A sua posição inovadora choca os anciãos e doutores da Lei. O conflito fornece-lhe a ocasião para um solene discurso diante do Sinédrio. Este discurso demonstra o novo rosto deste movimento cristão. Estêvão foi acusado pelos judeus de blasfémia e foi condenado e apedrejado.Ele é o primeiro mártir da Igreja. Ele é um verdadeiro seguidor de Cristo. Ele abraçou uma morte violenta por causa da fé e assim tornou-se um modelo ideal dos cristãos. A partir do seu martírio, o cristianismo deixa de ser uma seita interna do judaísmo. A vida e missão de Estêvão fornecem um impulso e testemunho corajoso a novos seguidores.

Daivadas Thomas