quarta-feira

Relação Tg-1Pd-2Pd

Entre os temas comuns a estas três cartas há dois que me saltaram rapidamente à vista: a Provação e a Vinda do Senhor, embora esta última seja tratada com expressões muito diferentes.
Em Tg convida-se à provação e alegria no sofrimento-provação, o que se traduzirá numa obra perfeita, o amor ao outro, em especial aos mais pobres; dado que a Vinda do Senhor está próxima, e que Ele vem como juiz, o autor exorta a não julgar os irmãos (cf. 1,2-4.12; 5,7-11).
Em 1Pd, a expectativa escatológica é também grande, sendo descrita de diversas formas: «a salvação, já prestes para se revelar no último tempo»; «a revelação de Jesus Cristo»; «o dia da visitação»; «está próximo o fim de todas as coisas»; «o julgamento»; «a glória que se há de revelar»; «quando aparecer o Sumo Pastor...». O que não se entende bem é se se trata aqui da expectativa do fim dos tempos propriamente, ou do fim da perseguição, ou do encontro com Cristo depois da morte, e morte provavelmente sangrenta, martirial. De qualquer modo, estando nesta tensão e esperança, o cristão é chamado a ver a sua vida à luz da vida de Cristo, e a considerar os seus sofrimentos como participação e imitação das provações por que Ele passou, alegrando-se nisso. O sofrimento é breve e passageiro, ao passo que a glória esperada é eterna e incomparavelmente superior. Há que viver vigiando e orando no meio desta tribulação, tendo amor para com todos. Portanto, o cristão é chamado também a amar os perseguidores, não se sujeitando contudo ao seu modo de viver pecaminoso - é preferível sofrer e ser atacado por fazer o bem do que por fazer o mal. Tudo isto é possível porque Cristo já o fez por nós, e isso é experimentado na fé e não na visão: sem O ter visto, os cristãos já o amam, porque creram no Querigma, que Cristo entrou na morte e carregou com os pecados do mundo, para que o mesmo pudesse viver para a justiça. Na mesma fé é chamado a viver o cristão, e como se vê, é como em Tiago uma fé que se traduz em obras de amor e não resistência ao mal (cf. 1,3-13; 2,12.18-25; 3,9.14-18; 4,1-4.7-8.12-19; 5,1-4.9-10).
Em 2Pd, já se nota uma impaciência por este «dia do Senhor», este «dia do juízo», por esta «vinda»; já há falsos profetas que pretendem dizer que tudo são fábulas, convidando os cristãos a um viver displicente e mundano. No entanto, o autor refuta tudo isso, exortando os cristãos a viver e a crescer na sua vocação e eleição, porque a espera desse Dia é ocasião para o arrependimento de todos. A provação consiste aqui, pois, em resistir às seduções do mundo e da carne, veiculadas por esses falsos mestres, esperando pacientemente os «novos céus e nova terra, em que habita a justiça»; e também em submeter-se às autoridades, tema que já aflorara em 1Pd. Até ao «dia da eternidade», há que crescer no conhecimento de Jesus Cristo, e isso não é mais que conhecer e seguir a sua vida de sofrimento voluntariamente aceite, que aparecera em 1Pd, e em todas as obras que Ele já realizou, patenteadas em Tg (cf. 2Pd 1,10-11.16; 2,9-10; 3,3-14.18).

Um comentário:

Helena Franco disse...

DAVID, ligaste as Cartas de Tiago, a Primiera Carta de Pedro e a Segunda Carta de Pedro, e obtiveste um bom resultado. Um bom post, por meio do qual esclareceste que o sofrimento cristão é participação no sofrimento de Cristo. Os esclarecimentos de um colega como tu são, para mim, importantes. É que a tua objectividade equilibra o modo de ser mais subjectivo que é o meu. Terminados os trabalhos no blog, desejo-te a ti e, através de ti, a todos os outros leitores boa preparação para o exame final e bom resultado no mesmo. OBRIGADO POR TUDO AQUILO QUE PUDESTE TRAZER A ESTE BLOG.