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CARTA DE TIAGO - O SEU CARÁCTER PROFÉTICO

Revisitarmos a Carta de Tiago é, para nós, olhá-la com interesse e gosto crescente, direccionando o nosso olhar já não para o seu carácter de “sabedoria cristã”, mas para o profetismo que, nela, o seu autor respira.

Os profetas do Antigo Testamento trabalhavam muito com dois termos – o direito e a justiça. Ora, há um elo entre o direito e a justiça: cumprimento da vontade de Deus e construção de uma sociedade justa, onde é possível existir o amor a Deus e ao próximo e, ainda, fidelidade dentro da comunidade. (1) É esta a sensibilidade e a mensagem de Tiago, pelo que também ele é um profeta.
Ele anuncia a vontade de Deus, capacitado não só para a proclamar em relação a todos os âmbitos de vida, mas também para a pôr em prática nas novas circunstâncias em que vivem as comunidades cristãs. Ao mesmo tempo, ele denuncia o que se opõe à vontade de Deus: o pecado, e busca a conversão do pecador. (2) Ao intervir em toda uma série de questões sociais e comunitárias, Tiago dá-nos a impressão de ser, nas palavras de J. L. Bondel, um “crítico social moderno”. (3)

Sendo verdadeiramente um homem do seu tempo, Tiago é um verdadeiro profeta, fala como profeta, e está preocupado com os homens do seu tempo, a quem, nas provações, chama adelphoi moi.

Tiago aborda um grande número de temas que seguem a tradição profética. Há, entretanto, dois temas fundamentais: Deus e o homem. (4)

Deus:
Enquanto criador e senhor dos astros, luz e imutável (1,17); enquanto “pai” ou gerador de vida (1,18.27); origem da verdadeira sabedoria (3,15.17); que tem um amor “zeloso” e que faz habitar o espírito no homem (4,5); que é sempre fiel (4,6); que elege os pobres e escuta os oprimidos (2,5;5,4); que virá como juiz (5,9).

O homem e a sua situação:
Tema do “resto” e preocupação pelos que estão na “diáspora”. O homem “duplo” ou dividido interiormente (1,8); exaltação do homem pobre e humilde (4,10); Job, homem exemplar (5,11); a acepção de pessoas (2,1-13); o poder terrível da língua (3,5b-6a); atitude crítica frente a todo o juramento.
O pobre e a pobreza (1,9.27;2,2-6.15-16;5,6); os assalariados e as suas situações injustas (5,4).
Contra a riqueza, o rico e a sua injustiça (1,10-11;2,2-4.6-7:5,1-6).
Acusação e denuncia contra os tribunais de justiça (2,6;5,6) e contra os comerciantes (4,13-17).
Chamada ao arrependimento e à conversão (4,7-10); a uma conduta misericordiosa (2,13); à paciência e à perseverança no meio das provas (5,7-11).
Anúncio de felicidade para os justos provados (1,2.12a); os profetas, modelos de paciência e firmeza nos sofrimentos (5,10); a confissão do pecado e a oração de intercessão (5,16-18); consequência salvífica de fazer voltar o pecador (5,20).


Nós vemos apreciativamente em Tiago um ish ha-Elohîm, ou seja, um homem de Deus, que, a partir de uma relação estreita com Deus, elabora uma nova teoria das relações pessoais entre Deus e a comunidade dos homens do seu tempo e dos tempos vindouros.

(1) Cf. BOUZON, M., Falando de Profetas in
http://amaivos.uol.com.br/, pp 1 e 2.
(2) Cf. ARAYA, A. G., Santiago, o Profeta – La Tradición Profética en la Carta de Santiago, Universidad Pontificia de Salamanca – Faculdad de Teologia, Salamanca, 1994, p 38.
(3) Ibidem, p 30.
(4) Ibidem, p 25.
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HELENA FRANCO
2007-12-08

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